Salas de aula, espaços pedagógicos e até vias de acesso às escolas alagam e expõem problemas que perduram, segundo docentes Foto: Reprodução/Sindiute
Salas e pátios alagados, teto em risco de desabamento e até paredes “dando choque”. As situações não condizem, mas são flagradas em diversas escolas e creches municipais de Fortaleza, que têm problemas estruturais e de manutenção históricos expostos durante a quadra chuvosa. Muitos deles vieram à tona no dia mais chuvoso de fevereiro em Fortaleza, o último dia 19.
A denúncia é do Sindicato dos Trabalhadores da Educação (Sindiute) e de professores ouvidos pelo Diário do Nordeste nessa quinta-feira (20). Segundo os profissionais, as más condições estruturais das escolas são sistemáticas e apenas evidenciadas pelas chuvas.
Vídeos obtidos pela reportagem mostram funcionários e até estudantes utilizando rodos para retirar a água que invadiu as salas de aula. Em outra imagem, crianças aparecem brincando em poças d’água no local onde deveria ser o parquinho de uma creche.
A professora Ana Paula Sancho, docente da rede municipal há 23 anos, afirma que, após a forte chuva de quarta-feira (19), as aulas foram suspensas no Centro de Educação Infantil (CEI) Darcy Ribeiro, no Vicente Pinzón, onde são atendidas 225 crianças de 1 a 5 anos.
“Tivemos alagamentos em vários pontos do CEI. Falta energia, a parede dá choque porque tem fio exposto e a água escorre. Colocamos as crianças num local seguro, enquanto os funcionários puxaram a água. E tudo isso deve piorar nos próximos dias, que têm previsão de chuvas”, descreve Ana Paula.
A professora reforça que “é uma situação recorrente”, e que desde 2022 o CEI tem um projeto de requalificação “que nunca saiu do papel”.
“Perdemos material pedagógico, coisas que estavam dentro das salas de aula, os trabalhos das crianças feitos neste ano foram perdidos. A mobília já é estragada, porque é em maioria muito antiga, enferrujada. A mercearia onde é guardada a merenda está com estantes enferrujadas, gerando risco de contágio”, situa.
Escolas com problemas
Em comentários nas redes sociais de Idilvan Alencar, secretário municipal de Educação de Fortaleza, professores emendam relatos sobre os transtornos estruturais. “Dei aula de educação física numa sala apertada, pois a quadra está encharcada”, disse um docente.
“Ontem eu estava tomando banho dentro da minha sala, meus alunos puxando água de dentro da sala. Parte da escola não pode funcionar porque alagou além da condição de ter aula”, registrou outra.
Já estudantes da Escola Municipal Prof. Manuel Eduardo Pinheiro Campos, na Sabiaguaba, não conseguiram chegar às salas, “porque a escola é praticamente dentro do mangue e a água toma conta do acesso”, como informou o Sindiute.
Em nota, a Secretaria Municipal da Educação (SME) informou que “uma equipe técnica da Regional 7 foi designada para verificar a situação no entorno” da unidade.
A Pasta garantiu ainda que “monitora situações que possam afetar o funcionamento das unidades escolares, para garantir que medidas sejam tomadas para seguir com as atividades pedagógicas e, assim, preservar a segurança de toda comunidade escolar”.
‘Histórico de pobreza na educação pública’
Na Regional 2 de Fortaleza, que abrange bairros como Aldeota, Papicu e Vicente Pinzón, nove escolas não funcionaram na quarta-feira (19), de acordo com Ana Cristina Guilherme, presidente do Sindicato do Trabalhadores da Educação (Sindiute). Ela afirma que a entidade solicitou à SME um balanço sobre outras regionais, mas não teve retorno.
A necessidade de inspeção predial em todas as unidades escolares municipais de Fortaleza é destacada pela gestora do Sindiute ao afirmar que “esse problema nas escolas é histórico de pobreza na educação pública” da cidade.
“Qualquer prédio de Fortaleza é obrigado a ter um laudo de inspeção predial, senão é multado pela Prefeitura. Mas a Prefeitura tem esses prédios e não exige a inspeção dela mesma”, observa.
“Temos crianças e professores nesses locais. As telhas quebram, precisam ser repostas, quando chega a quadra chuvosa tudo isso vai aparecer. Isso não deve ser tarefa pedagógica de um gestor escolar, tem que ter monitoramento, protocolo”, avalia Ana Cristina.
A presidente do Sindiute reforça que esses locais abrigam, além dos trabalhadores, “bebês e crianças”, o que torna urgente uma “operação especial de SOS às escolas, para proteção de vidas”.
Em publicação oficial, a SME anunciou, nessa quinta-feira (20), a instituição do Comitê para Atendimento das Demandas da Quadra Chuvosa para 2025, com o objetivo de “planejar e executar ações preventivas e corretivas para minimizar os impactos das chuvas nas unidades educacionais da Rede Municipal de Ensino”.
Conforme a Pasta, o comitê deve atuar até o dia 31 de maio “com ações de monitoramento das condições estruturais das escolas, em articulação com órgãos municipais para medidas emergenciais”. “A ideia é promover protocolos de segurança para alunos e profissionais da Educação”, complementa o texto.
Além da criação do grupo, a SME cita a implementação de um “Protocolo de Riscos e Intenções” para “identificar, de forma ágil, as necessidades das unidades escolares decorrentes do período chuvoso, bem como as expectativas da comunidade escolar quanto a melhorias na infraestrutura”.
FONTE: DN
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